Qual a explicação para os mais de 300 casos documentados ao
redor do mundo de indivíduos que tiveram seus corpos incinerados de dentro para
fora?
O Fenômeno da Combustão Humana Espontânea tem desafiado
estudiosos da paranormalidade há séculos e tornou matéria de discussão para
cientistas, parapsicólogos e céticos, mas até hoje existem mais dúvidas do que
certezas.
O que ocasionaria esse fenômeno? Ele é real ou algum tipo de
engodo?
O artigo a seguir foi compilado a partir das excelentes informações
contidas no programa "How Stuff Works", a respeito de Combustão Humana
Espontânea.
Introdução
Em dezembro de 1966, o corpo do Dr. J. Irving Bentley, de 92
anos, foi descoberto na Pensilvânia, ao lado do medidor de consumo de
eletricidade de sua casa. Na realidade, apenas parte da perna dele e um pé,
ainda com o chinelo, foram achados (foto ao lado). O restante do seu corpo
tinha se transformado em
cinzas. A única evidência do fogo que causara sua morte era
um buraco que havia no piso do banheiro: o resto da casa estava intacto e não
sofrera nada.
Como se explica que um homem pegou fogo – sem nenhuma origem
aparente de faísca ou chama – queimando completamente o próprio corpo, sem
espalhar as chamas para nenhum objeto próximo? O caso do Dr. Bentley, e
centenas de outros casos semelhantes, ficaram conhecidos como eventos de
“combustão humana espontânea” (Spontaneous Human Combustion – SHC). Embora ele
e outras vítimas do fenômeno tenham sofrido combustão quase total, as redondezas
de onde se encontravam, ou as próprias roupas, muitas vezes não sofriam dano
algum.
Os seres humanos podem ser consumidos espontaneamente pelo
fogo? Muitas pessoas acreditam que a combustão humana espontânea seja um fato
real, mas a maioria dos cientistas não estão convencidos.
O que é a combustão humana espontânea?
A combustão espontânea ocorre quando uma pessoa rompe em
chamas por causa de uma reação química interna aparentemente não provocada por
uma fonte externa de calor.
A primeira combustão humana espontânea conhecida foi
divulgada pelo anatomista dinamarquês Thomas Bartholin, em 1663, quando
descreveu como uma mulher em Paris “foi reduzida a cinzas e fumaça” enquanto
dormia. O colchão de palha onde ela estava deitada não foi danificado pelo
fogo. Em 1673, um francês chamado Jonas Dupont, publicou uma coleção de casos
de combustão espontânea na sua obra “De Incendiis Corporis Humani Spontaneis”.
As centenas de casos de combustão espontânea ocorridas desde
aquela época tiveram uma característica comum: a vítima sempre era consumida
quase completamente pelas chamas, usualmente dentro da própria residência, e os
médicos legistas presentes relatavam ter sentido cheiro de uma fumaça adocicada
nos cômodos onde os eventos tinham ocorrido.
A peculiaridade que os corpos carbonizados apresentavam era
o fato das extremidades terem permanecido intactas. Ainda que o dorso e cabeça
tivessem sido carbonizados de forma irreconhecível, as mãos, pés e/ou parte das
pernas não tinham se queimado. Além disso, o cômodo onde o corpo fora
encontrado mostrava pouco ou nenhum sinal de fogo, salvo por um pequeno resíduo
que tivesse ficado na mobília ou nas paredes. Em raros casos, os órgãos
internos da vítima permaneciam intactos, enquanto a parte externa era carbonizada.
Nem todas as vítimas de combustão humana espontânea eram
simplesmente consumidas pelas chamas. Algumas desenvolviam estranhas
queimaduras no corpo, embora não houvesse nenhuma razão para isso, ou emanavam
fumaça sem que existisse fogo por perto. Nem todos os queimados sucumbiam: uma
pequena porcentagem de pessoas que tinham passado pela combustão espontânea
sobrevivia.
As teorias
Para entrar em combustão, o corpo humano precisa de duas
coisas: alta intensidade de calor e uma substância inflamável. Sob
circunstâncias normais o corpo humano não possui nenhuma dessas características
citadas, mas alguns cientistas têm especulado sobre a possibilidade desses
acontecimentos ao longo dos séculos.
No século XIX, Charles Dickens despertou grande interesse na
combustão humana espontânea, usando-a para matar um personagem de sua novela “A
casa abandonada (”Bleak House”). Krook, o personagem alcoólatra, compartilhava
da crença comum nessa época de que a combustão humana espontânea era causada
por quantidades excessivas de álcool no corpo.
Hoje existem diversas teorias. Uma das mais populares sugere
que o fogo é iniciado quando o metano (gás inflamável resultante da
decomposição de vegetais) acumulado nos intestinos entra em ignição estimulado
por enzimas (proteínas no corpo que atuam como catalisadores para induzir e
acelerar as reações químicas). Entretanto, muitas vítimas da combustão humana espontânea,
sofrem mais danos na parte externa do que dentro de seus corpos, aparentemente
contrariando essa teoria.
Outras teorias especulam que a origem do fogo poderia ser
resultado de um acúmulo de eletricidade estática dentro do corpo, ou que
proviria de uma força geomagnética externa exercida sobre o corpo. Um perito em
combustão humana espontânea, Larry Arnold, sugere que o fenômeno resulta de uma
nova partícula subatômica chamada ‘pyroton’ que, segundo ele, interage com as
células para criar uma micro-explosão. Mas não existe nenhuma evidência
científica provando a existência de tal partícula.
Até março de 2005, ninguém ainda havia provado
cientificamente uma teoria que pudesse explicar a combustão humana espontânea.
Qual a explicação para as histórias e fotos de pessoas que aparentemente se
queimavam com um fogo vindo do interior do corpo, se os seres humanos não podem
entrar em combustão espontânea?
Combustão Humana x Ciência
A validação da combustão humana espontânea é vista com
ceticismo pela comunidade científica. Mas já foi provado cientificamente que
alguns objetos romperam em chamas sem que houvesse uma fonte externa de calor.
Por exemplo, uma pilha de trapos oleosos guardados juntos a um recipiente
aberto, como um balde. O oxigênio do ar incidindo sobre os trapos pode
gradualmente elevar sua temperatura interna até um ponto tal que o óleo
inflamável entre em
ignição. Sabe-se também que uma certa quantia de feno ou
palha também entram em combustão espontânea. Durante a decomposição, bactérias
no interior desses volumes são responsáveis pelo processo de degradação, sendo
capazes de gerar calor suficiente para provocar uma fagulha.
Se a combustão humana não é real, o que de fato ocorreu com
os corpos carbonizados de tantas fotos? Uma das possíveis explicações é o
efeito pavio, que afirma que um corpo em contínuo contato com uma brasa, um
cigarro aceso ou outra fonte de calor intenso, atua de forma semelhante a uma
vela.
A vela é composta de um pavio envolto por uma cera de ácidos
inflamáveis. A cera acende a vela e conserva a sua chama. No corpo humano, a
gordura atua como substância inflamável e as roupas da vítima ou seus cabelos
como pavio. A gordura, derretida pelo calor, ensopa as roupas e atua como cera,
mantendo a queima lenta do pavio. Os cientistas dizem que é por isso que os
corpos das vítimas são destruídos sem que a chame se espalhe para os objetos ao
redor.
Como se explicam as fotos dos corpos queimados, mas com as
mãos e os pés intactos? A resposta a esta pergunta pode ter alguma coisa a ver
com o grau de temperatura - a idéia de que a parte superior de uma pessoa
sentada é mais quente do que a sua parte inferior. Basicamente, o mesmo
fenômeno ocorre quando seguramos um fósforo com a chama na parte inferior. A
chama muitas vezes apagará por si mesma, porque a parte debaixo do fósforo é
mais fria do que a parte de cima.
Finalmente, como a ciência explica as manchas oleosas
deixadas nas paredes e tetos depois dos casos de combustão espontânea? Podem
simplesmente ser resíduos da queima dos tecidos gordurosos das vítimas.
Ninguém ainda desmentiu ou provou conclusivamente a
combustão humana espontânea, mas a maioria dos cientistas afirma existirem
explicações mais plausíveis para os restos mortais carbonizados. Muitas das
chamadas vítimas da combustão espontânea eram fumantes e morreram, como se
descobriu posteriormente, por terem dormido com o cigarro, charuto ou cachimbo
acesos. Acredita-se que muitos vitimados estavam sob influência do álcool ou
haviam sofrido de enfermidade restritiva de movimentos, que os impedia de fugir
rapidamente do fogo. Outra possibilidade é a de que, em alguns casos, os corpos
queimados e o estranho estado das vítimas se expliquem como resultantes de atos
criminosos e as posteriores tentativas de se apagar os rastros do crime.